6 de ago. de 2008

O EQUILIBRISTA ABSTRATO



por que se matou perguntariam os passantes imbecis. mas não perguntaram nada: tinha sete vidas, pelo jeito. a paixão pela mulherbarbada arrebatou-lhe todas as forças, todos os pensamentos: sobre a corda, desequilibrando-se, pensava em casar, os filhos e o casal morando na casa de espelhos. jogou-se do vigésimo primeiro andar contemplando as luzes embaçadas da cidade absurda se aproximarem. o coração já havia parado no nono andar. quando começou a cair com mais leveza: sabia equilibrar o ar, sem cordas. dessa vez, apenas se deixou gravitar, com uma pedra que já não batia mais no peito. as cores cada vez mais fortes. tempo de lembrar num átimo tantos momentos com ela; como era bela antes de fugir... mais leve que o ar, mais pesado que o chão: na calçada espalharam-se parafusos, roldanas, polias e um pouco de sangue. não era pluma. não era pedra. um jeito de não ser nada: equilibrista. parece que vai chover hoje, dia de carnaval.

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