dirigiu-se amigavelmente ao bilheteiro. o rumor das crianças ao fundo excitava-o. não acredito nisso, por mim: danem-se! entrou tropeçando em seu sapato-bicolor enorme. no picadeiro solto meus demônios! exorcizava-se e sentia-se bem em fazê-lo assim, publicamente, todos rindo e gargalhando demais, e ele ali naquela sublimação, naquele romper os próprios limites!começava imitando todos os artistas participantes do espetáculo, um a um. mas hoje havia um plano. e se eles soubessem? continuariam gargalhando? o momento aproximava-se: quando a malabarista chegou ao seu campo de ação, puxou-a e ambos caíram sobre a rede. gargalhadas e aplausos. abraçou-a e sussurrou: te amo, foge comigo desse lugar horrível! imediatamente ela se desvencilhou, casada com o equilibrista, josé! me respeite! não titubeou: mostrou-lhe a flor que trazia na lapela, e ela, mais para continuar o show do que para aceitar-lhe a cortesia, aproximou-se para cheirá-la. entorpecida, viu a tenda esvair-se em mil cores e formas. acordou nua, amarrada e amordaçada num quartinho pouco iluminado. sem a maquiagem o rapaz é até bonito. e viveram tristes e intensos até o dia em que foram descobertos pelo equilibrista abandonado... atropelou-os
sem-o-menor-ressentimento daquela ingrata. mas, sem que ninguém soubesse, sem que ele admitisse para si mesmo, chorava à noitebaixinho uma foto dela escondida sob o travesseiro.
Um comentário:
massa, cara. prosa bem dinâmica e imaginativa. abraço.
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