11 de ago. de 2008

OLHOSDEVIDROS (OU O PALHAÇO QUE TEVE AS PERNAS CERRADAS PELO MÁGICO)


quando percebeu o fundo da garrafa todo-vermelho, o ajudantepalhaço empalideceu. sorriso-triste-de-quem-compreendeu-tudo sorriu por um leve instante. embaraçado com a atitude do grão-mestre-homenzinho-velho, largou-lhe a garrafa no meio da praça. saiu cambalhotas seguidas de saltos-mortais. tomou o trem.



DOISANOS


a garrafa continua lá no mesmo lugar, o sangue ainda não coagulou. mudou de cor apenas. tons vítreos. o ajudante-palhaço, agora um célebre domador-de-feras, deixou correr dos olhos-de-vidros de emoção umas lágrimas. a sensação da lágrima é linda. lubrifica-me. purifica-me. lembrou os espetáculos na praça. orgulho de apresentar-me com o grão-mestre-homemzinho-velho. mas não podia mais viver nessa realidade. sentimento sem sentido! nunca compreendera o porquê do suicida. quem entenderia? todos. sabiam o segredo. agora morava numa casa de espelhos com a mulherbarbada. retinas azuis. a menina-dos-olhos ampliada no espelho grande da sala. não tive dificuldades em apreender a linguagem-das-feras. subjugou-as a comandos de olhares! realmente era bom nisso. mas ainda só sabia cantar piadas tristes e prósperas. num acidenteum descuido premeditado? uma leoa parida comeu-lhe as duas mãos. com um olhar de dor fulminou a leoa e os filhotes. morreram todos na semana passada. não tenho uma história para contar.

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